quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Resenha crítica do conto: Felicidade pelo casamento


ASSIS, Machado de. Felicidade pelo casamento. LITERATURA BRASILEIRA Textos literários em meio eletrônico.

Assis escreve seu conto em primeira pessoa, sendo narrador protagonista da história. Os acontecimentos inicia na adolescência do personagem que não se identifica com nome, simplesmente diz pertencer ao seu nome a letra F. Nesta fase de adolescente, tem gostos diferentes de outros da sua idade, pois costumava passar seu tempo na solidão e em companhia dos livros. Se mostra independente nas questões do coração, pois seus tios queriam que ele se casasse com sua prima, mas ele nunca nutriu nenhum sentimento de amor pela mesma. O escritor mostra um protagonista que reflete sobre a vida, nos aspectos tanto afetivos quanto espirituais, pois o mesmo lê a bíblia e se depara com os conselhos de Salomão em Eclesiastes: “Há tempo de nascer e de morrer. Há tempo de plantar e tempo de colher. Há tempo de enfermar e tempo de sarar.” Sua esperança era que o tempo de amar chegasse logo, porém esse tempo estava demorando vir, por isso vivia filosofando que as duas certezas da vida eram nascer e morrer, o resto não temos certeza de nada. Murmurava sobre a verdade nas afirmativas que “colhemos o que plantamos”, ele tinha plantado somente coisas boas, mais não conseguia ver a colheita na recepção de um amor na sua vida. Ele ansiava por esse momento, sonhava que ela havia chegado, mas na realidade estava ainda abandonado na solidão. Estava prestes a viajar para outra cidade quando ficou de cama doente. Vemos o quanto não somos donos do nosso destino, pois a qualquer momento as coisas podem mudar de rumo em nossa vida. Depois que o protagonista ficou doente, conheceu o doutor que levou a conhecer sua filha Angela, a mulher que o protagonista se apaixonou. Não a primeira vista, pois como era esperto e inteligente estudou a vida da moça, sua amizade com Azevedinho e depois de algumas conclusões, percebeu que já a amava. Apesar dessa união ser arranjada pelo pai, Angela também nutria o mesmo sentimento pelo protagonista, vez que a moça nunca deixou transparecer esses anseios. Por isso, o protagonista teve que ser audacioso em perguntar a moça se ela nutria o mesmo sentimento por ele. Ângela teve dois pedidos de casamento no mesmo dia, um do protagonista outro de Azevedinho, aceitando o primeiro para ser seu esposo. Percebemos que o protagonista apesar de ser bem-dotado de valores éticos e agraciado por uma vida da alta sociedade por ser rico, nutre uma certa discriminação pelo seu rival, como vemos nesta e em outras passagens, Assis pg. 11: “… e a ideia de que não devia lutar com um homem que eu julgava moralmente inferior a mim, acabaria por triunfar em meu espírito.” E no pedido de casamento onde o viu derrotado pelo não de Ângela, riram dele os dois, como se o pobre coitado não tivesse sentimentos. No entanto, apesar desse episódio negativo, chegou o tempo que o protagonista tanto esperava, o tempo de amar. Se casou com Ângela, ganhou dois grandes amigos e foi viver próximo a sua mãe que tanto amava.
Assim vemos a resposta do tema dado ao conto, “Felicidade pelo casamento” é quando se espera a hora certa para que o amor bata a porta e queira ficar. Talvez nem todos consiga viver Eclesiastes 3, 1: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Seu tempo de amar havia chegado. Talvez muitos não consigam esperar o tempo de amar e perseguem um amor falso, cheio de ilusões, amor esse que o protagonista teve o cuidado para não viver. Esperar o amor é deixar estar na solidão, não lutar contra o tempo em que vive, pois todo o tempo tem um propósito na vida e é preciso vivenciar cada um deles com sabedoria, basta aceitá-lo, e logo virá o tempo de ser feliz. Essa sabedoria Clarice Lispector soube recitar em seu poema ISSO É MUITA SABEDORIA”:

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.


O amor verdadeiro é aquele espontâneo, recíproco, inevitável, que pulsa em dois corações ao mesmo tempo, e anseia jamais abandonar um ao outro. Casar-se com a mulher amada é continuar depois de muitos anos a enamorar-se dela, é desvendar seus valores, suas aspirações mais escondidas é perceber que a felicidade está em fazer a pessoa amada feliz. É o que vemos na vida do protagonista que diz ter passado cinco anos de união com sua amada, e continuava a descobrir suas qualidades. O homem feliz é aquele que consegue perceber que na sua família se encontra o berço de vida, paz, esperança, harmonia e felicidade. Basta ter foco e saber escolher as pessoas certas para se relacionar.
Joaquim Maria Machado de Assis, conhecido como Machado de Assis, foi um renomado jornalista, escritor de poesia, romance, crônicas e teatro. Nasceu no Rio de Janeiro aos 21 de junho de 1839, vindo a falecer em 29 de setembro de 1908. Fez parte da Academia Brasileira de Letras sendo presidente da mesma por muitos anos. De suas inúmeras obras, as que mais se destacam são:
  • Ressurreição, (1872)
  • A mão e a luva, (1874)
  • Helena, (1876)
  • Iaiá Garcia, (1878)
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas, (1881)
  • Casa Velha, (1885)
  • Quincas Borba, (1891)
  • Dom Casmurro, (1899)
    Sendo a obra “Dom Casmurro” que se destaca pelas grandes polêmicas entre os leitores e críticos literários sobre a grande verdade da história que o autor não deixa definido.


Referências Bibliográficas:
Dados disponíveis em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000089pdf.pdf. Aceso em 03 de out. 2017.
Dados disponíveis em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/ec/3. Acesso em 04 de out. 2017.
dados disponíveis em: https://www.pensador.com/frase/MjA5MjY1/. Acesso em 04 de Out. 2017.


Rosane Martins, acadêmica do curso de Letras Português pela UnB (Universidade Federal de Brasília). 

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