Textos nossos

Apenas um detalhe
Por Clevison Oliveira
                                                                                                                          
Sabe aquele arrepio... que a alma se acalma e vê que a vida vale a pena?
Pois é. Senti novamente.
Era início de noite de uma sexta-feira. Estava entediado, tinha acabado de chegar em casa e a fadiga do dia inteiro de trabalho em frente a um computador me consumira a ponto de não ter paciência nem para assistir a um bom filme. Então fiquei procurando algo físico para fazer. Lembrei que meus filhos estavam fazendo aula de capoeira em uma quadra de esporte perto da minha casa, não hesitei, peguei a minha lanterna, já que para chegar ao local tem que passar por um longo espaço escuro e fui até lá.
Ao chegar todos já acenaram me cumprimentando. Senti-me melhor. Fiquei mais de meia hora observando o professor ensinando o gingado e o toque dos instrumentos. Quase no fim da aula todos pararam e o ritmo mudou a cadência que se misturou com os aplausos.
De repente o professor pega pelo braço uma menina de aparência de uns treze anos, branca, magra, cabelos lisos e meio despenteados, e traz para o meio da roda. Com tanto carinho ele mexe com a garota que rir devagar, meio tímida olha para os lados e começa a gingar bem sem jeito, quase não se mexe, mas os colegas não se importavam, faziam festa, gritavam e aplaudiam. Parecia que aquele momento era o auge do evento. Ela ficou no meio da roda um minuto, mas parecia ser uma hora, pois o ar que a garota passou a todos ficou marcado com a reação de felicidade dos colegas. Aos poucos fui percebendo que se tratava de uma menina de uns dezessete anos ou  mais que nasceu com problemas de mobilidade, autista e que está se socializando com as aulas de capoeira.
Após terminar o show, a menina que normalmente não interage com ninguém sai abraçando todos os colegas e sobrou abraço até pra mim que estava na arquibancada da quadra. O arrepio que alimenta a alma veio, a vida vale a pena. Quem nunca sentiu... que pena!


Trabalho do Projeto Profissional - Carta.


Carta para minha filha


Acrelândia, 15 de maio de 2015
Querida filha Penélope!
Tenho andado meia pensativa quanto ao pouco tempo que dedico a você, sei que mereces toda a minha atenção e carinho, pois só tem quatro aninhos. Peço perdão por não conseguir expressar todo amor que sinto pela prática do dia a dia. Sei que é cansativo ficar o dia todo na creche enquanto a mamãe trabalha, e a noite que fica entediante, pois levo você para a faculdade, onde faço meus estudos enquanto você assiste desenhos. Um dia quando a mamãe terminar os estudos e concluir essa graduação, vai ser maravilhoso, porque uma nova vida chegará para nós duas. E todo sofrimento e necessidades que passamos vai ficar no passado. Serei uma professora de Letras e quero fazer parte da sua vida ensinando-lhe a arte da leitura e a importância da educação. Não serei professora somente na escola, quero ser professora em todas as áreas, contribuindo para que você compreenda o valor da educação e a arte de viver.
Na escola serei paciente em esperar que você entenda o que quero lhe ensinar, me adaptarei aos novos conceitos de educação para que não me torne ultrapassada. Usarei as ferramentas tecnológicas como parte do processo de aprendizagem. Serei sempre afetuosa e interativa com seus amigos, para conhecer sua história de vida e em que contexto social vivem. Estarei sempre atenta para nas situações que você mais precisar de minha atenção e explicação eu poder fazer a diferença. Buscarei através de projetos com a sociedade inserir a participação de meus alunos na prática de ensinamentos de valores éticos e morais. Ensinarei que somente você poderá percorrer seu caminho, e a vitória dos seus sonhos vai depender de seu esforço e compromisso.
Filha sei que não posso tudo, mas como professora de Letras lhe ensinarei a base de uma educação, que transforma vidas para melhor. Meu grande segredo estará sempre comigo nesta caminhada, que são os livros. Mesmo depois de formada, quero continuar buscando o saber, para não ser só mais uma professora de Letras e sim “a Professora de Letras” sua mãe. Quero que sintas orgulho por ser minha filha, pelo simples fato de eu ter lutado e vencido, você sempre esteve ao meu lado, seja nos momentos bons ou ruins.
Por isso, peço paciência pois o tempo passa logo e em um futuro próximo estaremos vivendo com mais dignidade e qualidade de vida. Vamos ter mais tempo juntas, vamos poder nos abraçar mais, se interagir melhor. Acredite que a mamãe vai vencer, e estará sempre ao seu lado lutando, para que você também vença nos seus sonhos futuros.
Com carinho e afeto, de sua mãe que te ama muito!
Rosane Martins.

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